quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

ONU alerta: o narcotráfico está a desestabilizar a Guiné-Bissau e outros países africanos

Aviões a jacto substituíram as antigas caravanas de camelos nas terras subsarianas, como o Mali e o Níger.

Por: Jorge Heitor

O Conselho de Segurança das Nações Unidas pediu esta semana maior cooperação internacional no combate ao narcotráfico, que está a ameaçar a paz em países como a Guiné-Bissau, a Libéria e a Serra Leoa. Perto de 60 toneladas de cocaína passam anualmente pela África Ocidental e 30 a 35 toneladas de heroína afegã pela África Oriental, transformando-se assim o continente num paraíso de redes criminosas, avisou o italiano Antonio Maria Costa, que dirige o Gabinete da ONU para Drogas e Crime (UNODC).

Os fluxos de cocaína sul-americana e de heroína afegã cruzam-se no Sahel, região subsariana que vai do Senegal e da Gâmbia até ao Mali, ao Níger e ao Chade, facilitando a vida a grupos como o ramo regional da rede terrorista al-Qaeda, disse Costa, durante o debate sobre os tráficos que estão a prejudicar a paz e a segurança.
A África já não serve só para o trânsito de tais produtos como para a sua produção e consumo, com a recente descoberta de sete laboratórios da República da Guiné (Conacri), para produção de drogas sintéticas, anfetaminas e cocaína cristalizada.

O Presidente da junta militar guineense, Moussa Dadis Camara, encontra-se hospitalizado em Marrocos, depois de há uma semana ter sido alvejado a tiro pelo antigo chefe da guarda presidencial, num exemplo das múltiplas turbulências a que estão sujeitos os países da África Ocidental. Quanto ao seu homólogo da Guiné-Bissau, Malam Bacai Sanhá, está actualmente hospitalizado no Senegal, por doença, aumentando assim os riscos de instabilidade nos dois países vizinhos, tidos como importantes pontos de passagem de toda a droga que da América Latina é encaminhada para a Europa.

A heroína e a cocaína são hoje em dia “uma espécie de nova moeda” a sul do Sara, de Bissau ao Mali, ao Níger e ao Chade, explicou Costa, enquanto o secretário-geral Ban Ki-moon destacava que as redes do crime organizado cooperam muito mais entre si do que os governos. “No passado, o comércio que atravessava o Sara era feito por caravanas. Mas hoje é maior e mais rápido, como o testemunham os destroços de um Boeing 727 encontrados dia 2 de Novembro na região maliana de Gao, afectada pela rebelião e pelo terrorismo”, contou o italiano que dirige internacionalmente o combate ao narcotráfico.

Aquele aparelho servia para levar cocaína da Venezuela para o interior do continente africano, depois de sobrevoar a zona de instabilidade onde o sul do Senegal faz fronteira com a Guiné-Bissau, zona essa onde actua a guerrilha independentista de Casamansa, um dos múltiplos movimentos rebeldes a que a África tem de fazer face.
Uma parte do território guineense é constituído pelas 88 ilhas Bijagós, a começar pela Caravela, a Formosa e a Galinhas, onde lanchas rápidas e avionetas podem servir para toda a espécie de tráficos, dado a ausência de meios de fiscalização.