domingo, 5 de agosto de 2012

Carlos Gomes jr., "disponível para continuar a trabalhar"



Primeiro-ministro deposto da Guiné-Bissau "disponível para continuar a trabalhar"
O primeiro-ministro deposto da Guiné-Bissau reafirmou hoje estar "disponível para continuar a trabalhar" pelo país, adiantando lamentar que o trabalho já feito para o seu desenvolvimento possa ser inutilizado pela situação decorrente do golpe de Estado de 12 de abril. "Eu estou disponível para continuar a trabalhar pelo meu país, parado é que ... A vida está parada, o governo em exercício não tem poderes legais para fazer a governação (...) eu teria muita pena que se fossem degradando todos os passos que nós já demos para o desenvolvimento do nosso país", declarou Carlos Gomes Júnior aos jornalistas à margem de um encontro da comunidade guineense em Lisboa.

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Carlos Gomes Jr., usando da palavra

O também vencedor da primeira volta das eleições presidenciais indicou que regressará à Guiné-Bissau se existirem condições de segurança. "Estamos a aguardar a reunião de alto nível a ser organizada pelas Nações Unidas (a 14 de setembro). Se for decidido e entendido que deve ir uma força multinacional para a Guiné naturalmente que estão criadas condições de segurança necessárias para isso (regressar ao país)", disse. Carlos Gomes Júnior repetiu que a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) "não tem condições, nem financeiras, nem tem capacidade" para conduzir sozinha o processo de transição e criticou a possibilidade de se realizarem "eleições presidenciais de raiz".

"Quem é que vai financiar uma eleição de raiz? (...) existe uma crise financeira que toda a gente conhece. (...) O financiamento de eleições de raiz vai ser muito complicado, o que quer dizer que vai prolongar esse período de transição, o que não serve ao povo da Guiné-Bissau, não serve à nossa economia", disse, considerando que se "impõe que sejam mobilizados recursos e meios para a conclusão do processo eleitoral".

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Membros do Governo deposto, o presidente da República interino, o embaixador da Guiné-Bissau e militantes do PAIGC, na Aula Magna

A CEDEAO é a única instância internacional que apoia as atuais autoridades de transição na Guiné-Bissau. Carlos Gomes Júnior interveio no encontro promovido pelo FDDD -- Fórum da Diáspora para o Diálogo e Desenvolvimento da Guiné-Bissau e quando subiu ao palco foi recebido aos gritos de "Cadongo amigo o povo está contigo". As cerca de duas centenas de pessoas presentes ouviram o primeiro-ministro deposto da Guiné-Bissau declarar-se "muito sensibilizado com as manifestações de solidariedade" que tem tido desde o golpe de Estado e também recordar o trabalho que desenvolveu à frente do governo.

Segundo Carlos Gomes Júnior, fez-se uma "governação de rigor", apostou-se nos cuidados básicos de saúde e conseguiu-se "uma taxa de crescimento de cinco por cento". Não faltaram as críticas à CEDEAO, que "não tem nenhuma exclusividade" para resolver os problemas na Guiné-Bissau. "Vai haver eleição e vou ser presidente guineense", declarou sob aplausos, num discurso que acabou com vivas à Guiné-Bissau e ao povo guineense. Além do primeiro-ministro, esteve também no encontro o presidente interino afastado, Raimundo Pereira, um dos signatários como Carlos Gomes Júnior de uma carta aberta dirigida à CEDEAO e preparada pelo FDDD.

O texto, resumido para os participantes no encontro, critica a mudança de posição da CEDEAO, que no início criticou o golpe de Estado, e apela aos cidadãos da África Ocidental para "denunciarem os atropelos" na Guiné-Bissau. Presente esteve também o embaixador da Guiné-Bissau em Portugal, Fali Embaló, que recebeu instruções das autoridades de transição em Bissau para abandonar o cargo. Aquelas autoridades comunicaram a intenção de substituir os embaixadores do país em Portugal, França e na União Europeia por três novos encarregados de negócios.

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Mais de duzentas pessoas estiveram atentas ao discurso de improviso do primeiro-ministro eleito da Guiné-Bissau

"É um `bluff`", considerou hoje Carlos Gomes Júnior, referindo que as autoridades de transição não têm poder para destituir ou nomear embaixadores. "O governo legítimo neste momento, eu sou o chefe do governo legítimo da Guiné-Bissau e qualquer embaixador para ser nomeado tem de ser por um decreto presidencial. Portanto, esse presidente de transição não tem poderes constitucionais para isso, é o chamado limite constitucional, ele não tem esses poderes, nem para nomear, nem para exonerar", disse. LUSA