domingo, 5 de agosto de 2012

Carta aberta à Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton




Hello Ms Hillary !


Recentemente em visita oficial ao Senegal, a Secretaria de Estado Norte Americana, Sra Hillary Clinton, não poupou palavras elogiosas ao pais vizinho, o Senegal. Nada de anormal se se tiver em conta que, o Senegal (possa-se gostar ou não), tem dado mostras de uma democracia estavel com ciclos de transição interessantes e estaveis (esta-se no 3°ciclo de transição democratica realizada com exito). O Senegal, efectivamente é, um exemplo de uma democracia suficientemente enraizada quer nas Instituições da Republica, quer nos partidos politicos, quer na manifestação civica dos seus cidadãos. Bravo! Um exemplo positivo para a Africa em geral e para a sub-região em particular.

Outro reverso da medalha: a Guiné-Bissau, um narco-estado, vizinho incomodativo e indesejavel. O nosso pais, foi apontada pela Sra Hillary Clinton como exemplo do mau aluno, a ovelha negra da região, foco de permanente instabilidades politico-miltar, golpes de estado, do narcotrafico e assassinatos politicos sem fim. Um pais perdido e em queda livre, tanto no aspecto economico como no plano social. Nada melhor, Sra Secretaria de Estado para ilustrar o exemplo entre o que é BOM e o que é MAU.

Perante esta apreciação oposta de dois paises aparentemente tão proximos, é bom atirar à atenção da poderosa Sra Secretaria de Estado Norte Americana, que a independência do Senegal foi obtida nos moldes que se historicamente todos nós sabemos. Uma independência sem violência nem grandes sobressaltos sociais que foi realizada na base de uma passassão administrativa faseada e fortemente condicionada pelos principios e pressupostos neocoloniais que as antigas potenciais impunham a nova vaga independentista dos anos '60 em Africa. Obtida a independência,o Senegal no plano da sua soberania funcionou directa ou inderectamente como um protectorado da França (até agora este pais mantém um contingente militar operativo significativo no Senegal eos seus serviços secretos beneficiam de assistência técnica e consultadoria da secreta francesa), sendo as suas forças armadas formadas num quadro de serviço publico, estricptamente orientada para a defesa da soberania nacional, do estado de direito e do primado da obediência aos valores republicanos. Esses indicadores basicos de qualquer democracia no mundo constituem os pilares da sua estabilidade e a razão da não existência de golpes de estado, nem convulsões assinalaveis no quadro da sua classe castrense. Mais uma vez, devemos dar a César o que é de César.

A Guiné-Bissau, como se sabe, obteve a sua independência de armas na mão, através de uma Luta Armada de Libertação Nacional de rara bravura, mas com muitas mortes e muito sofrimento. Esse tipo de independência tem os seus custos e respaldo negativo na sociedade.

Hoje a Guiné-Bissau esta agrilhoada e penhorada ao humor das Forças Armadas, oportunisticamente coladas à figura do «combatentes da liberdade da patria», titulo de descarada escolha, como se fossem eles uma élite de mutantes«imortais» gerados nos obscuros mitos e historias da Luta de Libertação que durou 11 longos anos, mas, que no entanto, ja terminou ha mais de 39 anos. Alguma desta classe de militares, que não passam de um grupo de meliantes e traficantes em armas, junta-se uma outra componente de extrema perigosidade para a coesão nacional que é a sectarização e a tribalização da sociedade castrense. Estas duas componentes desvirtuam hoje completamente a essência e a orientação do que deve ser as Forças Armadas Republicanas de um pais democratico.

Como consequência desse desastroso estado de coisas, ha quase 14 anos, assiste-se hoje na Guiné-Bissau, o dominio de uma minoria em armas sobre uma larga maioria desarmada e indefesa. Sra Hillary Clinton, o Povo da Guiné-Bissau assiste impotente o exercio gratuito e impune da violência politica e armada exercido ou manipulado por um grupo minoritario e sem quaisquer perspectivas de desenvolvimento (um grupo perigosamente sectario e essência étnica) sobre toda uma sociedade fazendo todo um pais, privando todo um povo de expressar livre e democraticamente a escolha dos seus dirigentes.

Sra Secretaria de Estado, cremos que Va Exa sabe que essa violência esta a ser impunente exercida por intermédio de milicias fortemente armadas e treinadas dentro de uma concepção tribalistas da sociedade, qual bandos armados que se acobertam do manto de «Forças Armadas». E esse, Sra Secretaria de Estado, o MAIOR PROBLEMA da Guiné-Bissau.

Sem querer tirar mérito ou tentar desmerecer aos senegaleses os elogios norte americanos, esquece-se no entanto, a Sra Hillary Clinton que - para além dessa questão subjacente às suas independências e soberania – a realidade da Guiné-Bissau é completamente diferente da do Senegal em todos es seus aspectos. Também, esses dois paises diferenciam-se radicalmente no tocante aos seus objectivos e estratégias sub-regionais, sendo que, de um lado, da parte do Senegal, existe a indisfarçavel ambição de dominação e de anexação em relação à Guiné-Bissau, na logica expansionista de tornar a Guiné-Bissau numa extensão da irredentista Casamança. É bom que a Sra Hillary saiba que, também essa indisfarçavel ambição de submeter e anexar a Guiné-Bissau por parte do Senegal (com a cobertura da França, diga-se de passagem), é também, um dos germes principais dessa instabilidade em gestação e renovação ciclica na Guiné-Bissau.

O Senegal,(contrariamente ao que muita gente não quer reconhecer), é depois das "Forças Armadas" e os seus cumplices politicos com o PRS à cabeça, o maior obsctaculo e entrave à estabilidade e o desenvolvimento na Guiné-Bissau. Quando ha estabilidade e sinais de desenvolvimento na Guiné-Bissau, ha incomodo e sobressaltos em Dakar, mexendo sobremaneira com o estado de espirito dos governantes senegaleses. O Porto das aguas profundas de Buba e o projecto de autonomização da exploração petrolifera fora do quadro da Agência de Exploração Conjunta, fez soar o sinal de alerta no Senegal.

Em termos de experiência democratica, associado aos pressupostos do paragrafo anterior, é inquestionavel que o Senegal possui, comparativamente ao nosso pais, uma experiência e mais valia democratica de mais de 50 anos (40 doPs e 12 do PSD...). O Senegal, desde a sua independência, conheceu, até à presente data, somente quatro Presidentes da Republica (L.S.Senghor, A. Diouf, A. Wade e agora M. Sall). Embora seja uma democracia minuciosamente minotorada a partir do Elyseu, não deixa, mesmo assim, de ser obra num contexto particular de exercicio da democracia, como é no continente Africano. Deve-se dar a César o que é de César...

O Senegal, para além do «proteccionismo» e «paternalismo» evidente da França - devido à sua estabilidade socio-politico-militar - tem beneficiado de ajudas externas extraordinarias em todos os sectores das suas actividades, nomeadamente economicas, financeiras (ajudas orçamentais e outros) politico, socio-culturais e, em particular nos dominios da defesa e da segurança, incluindo uma significativa fatia dos EUA. É reconhecido que estes factos contribuem preponderantemente para o enraizamento e a solidificação de qualquer democracia, seja ela no continente africano, no asiatico, no médio oriente ou mesmo no europeu.

Esses factores exógenos, são variaveis preponderantes para o enraizamento e a consolidação de quaisquer democracias e em qualquer parte do mundo. É sabido que só com ovos é que se fazem omeletes. A Guiné-Bissau ainda não conseguiu gerar a sua galinha poedeira porque nunca lhe deram tempo e ninguém ajudou-o seriamente a consegui-lo, ninguém, tão pouco o Tio Sam que hoje nos aponta o dedo como sendo os MAUS ALUNOS DA SUB-REGIAO. Em termos de assimilaçãodos pressupostos da democracia, tanto no quadro civico, como no socio-democratico, nem os EUA e muito menos o Senegal, têm algo a ensinar ao povo da Guiné-Bissau..., digo bem..., ao POVO da Guiné-Bissau, pois justiça tem que lhe ser feita.

A Guiné-Bissau abriu-se ao multipartidarismo com a realização das primeiras eleições democraticas e pluralistas em 1994. Seguiram-se varias outras eleições, tanto regulares como antecipadas e, em todas elas, sejam quais forem as circunstâncias ou contigências que o pais atravessa-se (exemplo: as eleições de 2000 apos a sangrenta guerra de 7 de junho de 1998) e, em todas elas, o POVO DA GUINE-BISSAU, sempre deu bons exemplos de maturidade democratica. O POVO DA GUINE-BISSAU, sempre mostrou a sua maturidade civica e politica, mostrando ao mundo de que sabe exercer-se em democracia de forma ordeira e pacifica, demostrando saber, sempre escolher livremente e em consciência, os seus governantes, sejam elas, para o cargo de Presidente da Republica ou para Chefia do Governo.

Porém, apesar dos varios exemplos de sentido democratico irrepreensivelmente dado pelo POVO DA GUINÉ-BISSAU, ha sempre um outro factor desiquilibrador de tendência inversa que tende a bloquear e desvirtuar o sentido democratico das suas escolhas - elas são as «FORCAS ARMADAS». Infelizmente a Guiné-Bissau tem umas «FORCAS ARMADAS» que não é mais do que uma Força de contra-poder cuja omnipresença se manifesta ciclicamente de forma anarquista, sectaria, violenta e normalmente sanguinaria. Em suma, a Guiné-Bissau, em vez de umas Forças Armadas, tem uma orda de cariz tribal, sem regras de comportamento nem de valores, senão a obediência às suas aferências étnicas ou de origem.

Alguns dos elemengos dessas «Forças Armadas» é que constituem o factor negativo n° 1 das sucessivas reversões das tendência positivas que a sociedade guineense tem dado rumo à consolidação da democracia na Guiné-Bissau. A eles, estão sempre associados um grupo de politicos reincidentemente oportunistas, sem escrupulos e muitos deles movidos por meros instintos tribais.


O POVO DA GUINE-BISSAU em si, não precisa de lições de democracia nem de reparos de quem quer que seja (mesmo de Sua Exca, Sra Secretaria de Estado Norte-Americana), pois sempre que se foi dada a oportunidade de escolher em democracia, fé-lo, ordeiramente, em consciência e de forma inequivoca... Infelizmente, no sentido inverso da vontade desse POVO, encontra-se sempre os Militares-golpistas-tribalistas que, em conluio com politicos oportunistas, seus comparsas para cercearem o sentido da legitima escolha do POVO GUINEENSE.

Posto tudo isto, gostaria humildemente de perguntar, a Sra Secretaria de Estado do todo poderoso EUA: O que é que de concrecto os EUA fizeram até hoje para atenuar essas diferenças ou inverter essa situação de anarquia e contra poder democratico que vive ciclicamente na Guiné-Bissau?;

O que foi que os EUA fizeram ou ajudaram para o projecto da reforma das «Forças Armadas» da Guiné-Bissau?;

Quais foram as medidas, eventualmente tomadas pelos EUA tendentes a dissuadir ou descartar os militares das constantes intromissões na vida politica e nos assuntos da Governação na Guiné-Bissau?;

Que apoios os EUA deram ao Governo para as FA no sentido de os persuadirem a se acantonarem as suas estritas funções da defesa do territorio nacional e não se imiscuir noutras esferas que não são das suas competências?;

O que foi que os EUA fizeram até hoje para ajudar a Guiné-Bissau a combater o narcotrafico, visivelmente fluorescente e sobejamente evidente, controlado e alimentado por alguns barões das chefias militares?;

O que é que os EUA fizeram até hoje, para deterem e traduzirem à justiça, as chefias militares guineenses indicados como estando comprovadamente envolvidos no trafico internacional de droga, os quais continuam a circular livremente e a vagar as suas ocupações de narcotrafico à vista de toda a gente?;

O que foi que os EUA fez até agora, para responsabilizar e traduzir à justiça, os autores principais das varias sublevações militares e golpes de estado na Guiné-Bissau, quem inclusivamente, os EUA nos seus varios relatorios e a propria Hillary Clinton, numa entrevista recente apontara como sendo o responsavel do assassinato do antigo Presidente João Bernardo «Nino» Vieira?;

A todas estas perguntas – poderão ser centenas – ha uma só resposta: NADA, ABSOLUTAMENTE NADA.

Sendo assim, Sra Secretaria de Estado, que moral tem os EUA para catalogar a Guiné-Bissau de MAU ALUNO, para o etiquetar de MAU EXEMPLO... Não se exige a um filho boa educação e boa conduta quando não se lhe da NADA para assim ser. Um bom pai de familia, se quer educar e tornar o seu filho um exemplo, deve antes de mais dar-lhe os instrumentos basicos de uma boa educação, dar-lhe meios para enfrentar os desafios e atingir as boas metas. A nos, os os EUA...NADA NOS DEU E EM NADA NOS AJUDOU, senão vãs promessas e exigências que se perdem no tempo e nunca mais chegam.

Em tudo isto (segundo os ecos do encontro entre a Secretaria de Estado Norte Americana e o Presidente Sall), é bom que se chame à atenção dos EUA que, caso em conluio com a França, queiram e pensem de que o problema da Guiné-Bissau, é uma simples apêndice do conflito senegalês da Casamança, e como tal, so se resolvera com a anexação ou integração do nosso pais na questão da «Grande Casamança», estão redondamente enganados e é bom que repensem a vossa estratégia.

Finalmente chego à conclusão de que, apesar de se reconhecer os EUA como a nação mais poderosa e influente no mundo actual, ela não deixa de me surpreender pela forma primaria e colegial que aborda certas questões da actualidade mundial, como é o caso da Guiné-Bissau, pais que, para além da violação permanente dos principios democraticos e dos direitos humanos em que é recorrentemente reincidente as suas «Forças Armadas», é também, apesar da sua redutora dimensão geografica, um dos maiores vectores do abastecimento da droga para os EUA e a Europa. No entanto, estou certo que, caso a Guiné-Bissau brandisse uma infima bandeirinha do extremismo islamico ou da Al-Qaida... veria à tona a paranóia norte-americana e, outro tratamento seria reservado pelos EUA à Guiné-Bissau. Porém, não longe do extremismo islamico esta também o extremismo tribal vigente na Guiné-Bissau e,... o exemplo Ruandês ainda esta fresca na memoria de todos os africanos, onde o mutismo e a complascência Francesa tem o seu quê de culpa moral.

Bem haja, poderosa Sra Secretaria de Estado dos EUA.

OP