segunda-feira, 18 de março de 2013

A dor da esperança


Após a independência até aos dias de hoje, tem havido conflitos cíclicos que provocaram avalanches de dias incertos e desesperantes na Guiné-Bissau. O medo, a insegurança e a impotência criaram barreiras às expectativas do povo guineense. Desde aí, tudo parece sem graça... A vida transformou-se numa rotina massacrante:
 
“Chefes de famílias que não tem pão na mesa porque a entidade patronal não paga; Preces das mães para que os filhos doentes, voltem a casa sãos e salvos porque falta energia nos hospitais; Alunos que à escola não vão porque os professores estão em greve; Jovens desempregados que mergulham no mundo da criminalidade, prostituição a espera de dias melhores; A maldita droga que mata os nossos filhos; O djambakus que decapita animais para “esperançar” os aflitos; O vizinho que “tira” esmolas de água todas as madrugadas... Sete colas sete velas na alvorada; Os velhos que sentam nos bancos vazios do império e partilham o silêncio, a escuridão e a tristeza com o palácio do nosso “king” que se encontra em coma profunda”.
 
Infelizmente, este quadro negro pintado pelos próprios guineenses, representa a triste realidade do nosso país. Pois, a mudança (para melhor) depende exclusivamente da vontade política dos cidadãos uma vez que o país é rico em recursos (naturais e humanos) e tem potencialidades para sair em tempo record desta situação nefasta.
 
O povo tem numa mão qualquer coisa parecida com a esperança e na outra, uma vida cheia de nada. A esperança é último a morrer como diz o ditado... Na verdade ela ainda existe mas, encontra-se debilitada a ponto de ser menor que a dor. Existe sim, uma esperança escondida no “barkafon” e perdida no tempo; Esperança na angústia, no desespero e na pobreza; Esperança que rói e dói que vem e vai, acorda o vulcão de sentimentos pessimistas e faz sofrer. Há quem diga que a esperança na Guiné-Bissau, é uma velhinha desdentada de corcunda que caminha para um lugar incerto com passos bem sincronizados (um para frente e dois para trás).
 
O guineense, assim como todos os povos, tem as suas aspirações e seus sonhos...Mas, haja paciência...! Em pleno século 21, é triste ver um povo que conquistou a sua soberania há 40 anos, ainda a alimentar-se duma esperança doentia e reduzida em coisas básicas. Em pleno século 21, é lamentável ver um povo tão inteligente como é o guineense, ainda a viver a Deus dará, sem um rumo certo para a sua felicidade.
 
Caros irmãos, viver de esperança sim, mas, na sua verdadeira essência e numa perspectiva mais ampla. Esperança duma vida condigna, dum futuro próspero para o país e para as nossas crianças. Uma esperança... Não direi de construir “Torre Eiffel” ou “Big Ben” mas sim, de pelo menos, acompanhar o desenvolvimento tecnonológico no mundo globalizado e porque não, transformar o país num potencial espelho e modelo de desenvolvimento para toda a África.
 
Como já tinha dito num dos meus artigos anteriores, repito com as mesmas palavras: A Guiné enquanto estado, deve promover a unidade dos povos! Ou a unidade se faz, ou ela se desfaz e a divisão da nação se perpétua. “OU VAI, OU RACHA!” É urgente promover a reconciliacão entre todos os guineenses (militares, civís e políticos). A Guiné-Bissau precisa duma união bem cimentada para consolidar a paz, a estabilidade e regressar a normalidade constitucional! O país precisa realmente de se entender!
 
O mundo abriu as mãos mais uma vez... José Ramos-Horta, declarou que apesar das dificuldades, é possivel organizar as eleições antes de Dezembro e que, há garantias financeiras e técnicas necessárias, para a realização dos escrutínios da parte da comunidade internacional. Devemos aproveitar esta oportunidade (talvez a última) para não entrar em colapso total, não ser considerado um estado falhado e consequentemente transformar num protectorado da ONU. Nós, (povo guineense) devemos usufruir dos nossos direitos fundamentais! Só assim poderemos acordar sem medo, abraçar desafios dos novos tempos, fazer crescer a nossa economia e partir firmemente para o desenvolvimento.
 
Haja união de todos os guineenses!
Pensamentos positivos...
Djarama!
 
Londres, 18/03/2013.
Vasco Barros. (Vavá)