sábado, 25 de maio de 2013

África


Hoje, 25 de Maio, alio-me ao editor do blog Ditadura do Consenso, na recusa em comemorar o dia da minha “avó” África, enquanto a minha “mãe” Guiné-Bissau se encontrar refém de alguns filhos criminosos violentos. Como guineense, considero prioritário libertarmos a nossa mãe das mãos desses criminosos travestidos de militares e políticos, antes de pensarmos na união e bem-estar a volta da nossa avó, intitulada Pan-africanismo.

O nobre filho Amílcar Lopes Cabral também sonhou não só com a dignidade da sua mamã Guiné, como também quis a união, harmonia, paz e desenvolvimento de todos os netos da avó áfrica e acabou por ser assassinado pelas mãos dos próprios irmãos, com dúvidas se não houve conluio de algum primo da vizinhança… Infelizmente, nós filhos da mamã Guiné, nenhuma lição conseguimos tirar desse assassinato do nosso grande irmão e de tantos outros que deram a vida pela sua mãe. Continuamos a hipotecar o nosso futuro nas mãos de “tios”, que ao longo da nossa curta história comportaram-se apenas como vizinhos invejosos que não querem ver-nos a desenvolver e fazerem tudo para condicionar o nosso desenvolvimento ao passo deles…

A história da avó África levou a que os genes dos seus filhos e netos tenham sido polvilhados e contaminados por outros genes vindos do exterior, com interesses antagónicos, portanto alheios à nossa forma de ser e de estar… Os africanos devem pensar que primeiro é urgente arrumar as casas das nossas mães (nossos países) e, só depois pensar em juntar os netos a volta da avó África, num grande banquete de filhos verdadeiramente independentes e autónomos, num ambiente de alegria, paz e prosperidade. Enquanto tivermos filhos a olharem apenas para os seus interesses pessoais e outros apenas para os interesses das suas mães e não nos importarmos com o sofrimento dos nossos tios e primos, que tratamos apenas como vizinhos que queremos sempre inferior a nós, qualquer banquete em nome da nossa avó África, não passa de uma falsidade e hipocrisia de dimensão continental…

Vejo amigos interesseiros apressados em criar mais um ambiente eleitoral, apenas para conseguirem colocar a mamã Guiné alinhado com os seus interesses pessoais e pergunto se serei o único a pensar que não adianta absolutamente nada fazer eleições e eleger os filhos melhores intencionados, se os outros filhos criminosos não forem punidos pelos seus crimes e aperceberem-se de uma vez por todas que o crime não compensa e que fazer refém a irmãos, só porque se tem uma arma na mão ou se tem amigos armados, é um crime punido com mão pesada da justiça, que obrigatoriamente terá de passar a funcionar e de forma imparcial na nossa mamã Guiné-Bissau.

Por outro lado, vejo a proliferação da mediocridade a ser tido como referência em várias vertentes da vida da nossa mamã Guiné-Bissau, e até fora dele! Vejo toda uma corja de impostores impreparados a ditarem regras e a fazerem se passar por profissionais ou até condutores dos destinos de todos os irmãos guineenses, que questiono seriamente se valerá a pena gastar dinheiro em eleições, sem antes pôr ordem e moralizar com mãos duras toda a sociedade Bissau-Guineense!

Dentro da escuridão do meu ceticismo a volta das eleições, pressinto poder haver uma pequena luz ao fundo do túnel, quando vejo uma figura como o Eng. Domingos Simões Pereira a sacrificar a sua vida pessoal e todo o seu património cultural e intelectual que custou anos e muito sacrifício a angariar, para percorrer um árduo caminho que poderá levá-lo ao volante da embarcação que se encontra a deriva no alto mar. Não conheço pessoalmente Domingos Simões Pereira mas, do que conheço do seu percurso académico, pessoal e político, não hesito em manifestar publicamente o meu desejo de o ver atingir o leme do país e dizer-lhe aqui que, assim como muitos guineenses, o que espero dele é que consiga reinventar aquele país com que um outro Engenheiro (Amilcar Cabral) um dia sonhou…

Um dia espero poder vir a comemorar o dia da minha avó África, 25 de Maio, com a alegria e o orgulho de um filho que assiste a paz e o bem-estar da sua mãe Guiné-Bissau.

N’rispitau vovó África, mas n’ama i n’disdja nha mamã Guiné.

Jorge Herbert