quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

CADOGO/CASO BUBA/UNIOGBIS (3): “Não respondo a subordinados”, afirma Carlos Gomes Júnior sobre “aviso”


O “aviso” dos militares guineenses ao ex-primeiro-ministro da Guiné-Bissau, cuja alegada presença em Buba levou soldados a entrar nas instalações da ONU, foi hoje desdramatizada por Carlos Gomes Júnior, que frisando que não tem de responder a subordinados.

Numa entrevista conjunta à RTP África e à agência Lusa na Cidade da Praia, onde reside há cerca de dois meses, Carlos Gomes Júnior considerou “patética” a atuação dos militares naquela cidade do sul da Guiné-Bissau, que, além de terem entrado nas instalações locais da ONU, ainda revistaram o carro do enviado especial das Nações Unidas para o país, o antigo presidente timorense José Ramos Horta.

Questionado sobre se esteve, de facto, em Buba, o também oficialmente presidente do Partido Africano da Independência a Guiné e Cabo Verde (PAIGC) respondeu que não, indicando que esteve no México, a participar numa conferência internacional em que estiveram presentes alguns ex-ministros portugueses, como Miguel Relvas e António Dias Loureiro.

“Cheguei no sábado à noite (à Cidade da Praia). Não sei como posso estar no México, a 18 ou 20 horas de voo, e estar, ao mesmo tempo, em Buba. Só se for um fantasma. São situações que levam a uma análise patética de uma situação em pleno século XXI”, afirmou.

“Eles conhecem bem o Carlos Gomes Júnior. Não respondo a subordinados. Sou o chefe, sou o primeiro-ministro legítimo da Guiné-Bissau. Não tenho medo de assumir as minhas responsabilidades”, acrescentou, depois de questionado sobre se o “aviso” feito pelos militares à sua segurança foi recebido.

Sobre o incidente, considerou-o um “acidente de percurso” que, no seu entender, “infelizmente, já começam a ser demasiados”, disse, aludindo também à questão dos 74 cidadãos sírios, com passaportes turcos falsificados, que embarcaram à força no voo da TAP-Portugal entre Bissau e Lisboa.

“Esse tipo de comportamento não é normal. Mas não é a primeira vez que esses acidentes acontecem”, afirmou, considerando “extremamente grave e inadmissível” o caso dos cidadãos sírios.

“Isso demonstra como a situação se aproxima do caos, em que cada um tenta saltar do barco e fazer as coisas à sua maneira. Se virmos o que aconteceu a 11 de setembro (de 2001) nos Estados Unidos, como se pode meter passageiros que foram identificados de forma caótica a entrar num voo internacional? Não é normal. O Governo (guineense) deveria ter pedido desculpas às autoridades portuguesas, sentar à mesa e arranjar outra forma de controlo de maior segurança”, defendeu.
A título pessoal, Carlos Gomes Júnior reivindicou ter sido alvo de quatro tentativas de assassinato.

“Na primeira, tive de refugiar-me na sede das Nações Unidas (em 2007). Nos acontecimentos de 01 de abril (2010), em que pela primeira vez na história de África o povo saiu à rua para exigir a libertação imediata do primeiro-ministro, a 26 de dezembro de 2010) e a 12 de abril (de 2012)”, referiu.

Nesse sentido, Carlos Gomes Júnior defendeu a “urgência” da implementação da reforma no setor da Defesa e Segurança, bem como da necessidade de umas Forças Armadas republicanas e que “obedeçam” ao poder político.
“Uma pessoa (militar) não se pode sentar de manhã e, à noite, resolver tomar uma decisão (golpes de Estado). Num Estado de Direito, com responsabilidades junto da comunidade internacional, temos de criar instituições credíveis, para que se possa fazer uma cooperação séria com os parceiros de desenvolvimento”, defendeu. LUSA